NINGUÉM
Maria João Brito de Sousa
18.10.08
Quando o caminho sobe, eu adormeço
sôbre o cansaço de não ter andado:
ao luar-de-mim-mesmo me anoiteço,
com este amar de coração parado.
Um fim-de-raça foi o meu comêço
e, sem naufrágios, pelo mar coalhado
destes dias que vivo e não mereço,
o meu futuro é feito de passado...
Sonho que sonhe fala-me de algêmas
e gastei com as tintas duns poemas
esta côrdo meu sangue já sem côr!
Inocente ou culpado (à Sua imagem!),
eu nem sei porque teimo na viagem
duma vida vivida por favor.
In - "O Náufrago Perfeito" , Coimbra, 1944
Desenho de Manuel Ribeiro de Pavia
Imagem retirada da internet