DOBRA
Maria João Brito de Sousa
15.07.09
Como perdido vou, ao luar da vida
(minha glória é librar
uma canção perdida),
este dúbio demónio que me lura,
cobre de cinza impura
quanto eu possa cantar.
Viajo de olhos fraternos o Planeta
e a beleza me fere,
no mais fundo do peito, a carne viva
dessa corda secreta
onde, se Deus disser,
pela graça de amar todo o homem é poeta.
Mas, dura, me soverte de cuidados
a voz que O Tal me vela à sua cor.
Meus versos são pecados,
sejam eles de amor!
(A alma cativa,
a bem ou a mal,
não pode ser leal
ao seu melhor.)
In "Linha de Terra", Lisboa, 1951