VERSOS DE UM DIA DOENTE
Maria João Brito de Sousa
06.09.08
E sou eu afinal êste farrapo?
Que é dos meus olhos de menino-e-moço?
É isto só o coração, que eu ouço,
Aos pulos, no meu peito, como um sapo!?
Oh voz fadada pra falar de Deus,
Deixaste-me na bôca cinza apenas!
São estas mãos aquelas mãos pequenas
Que minha mãe erguia para os céus?
Já não sou, meu amor, o que tu amas.
- Esse a quem deste as tuas mãos leais
- Há que tempos morreu! - não volta mais:
Veiu o Diabo e atirou-o às chamas!
Hoje sou, na verdade, êste senhor
De falas mansas, a viver baixinho...
Roubaram-me de noite, no caminho,
A alma que me deu Nosso-Senhor!
In- PRESENÇA - Nº3
Fôlha de Arte e Crítica
Coimbra, 8 de Abril de 1927