SETE LUAS -(Poemas de António de Sousa) por Campos de Figueiredo
Maria João Brito de Sousa
07.09.08
Nesta maré montante de publicações cotidianas, é natural que um livro de sinal positivo passe despercebido ao leitor mal informado.
...Quando se fizer, um dia, uma revisão de valores, quando tiverem desaparecido os "críticos" ressentidos e despeitados, quando aparecer "Alguém" que só conheça as obras, independentemente dos autores, ficará meia dúzia de nomes respeitáveis e sérios. António de Sousa fará parte dessa pequena colheita.
É que existem na sua obra de Poeta alguns poemas com a qualidade e a marca da Grande Poesia.
O que tem prejudicado a divulgação mais ampla do seu nome é precisamente aquilo que, no futuro, há-de torná-lo grande entre os raros: - a sua incapacidade de literato!
António de Sousa é a negação do literato. Homem-Poeta acima de tudo, só quando o seu rio transborda e a nacessidade de comunicação se lhe impôe, é que os versos saem. Saem como a água das rochas. Nascem como plantas bravas. E bravas ficam quase sempre. Ele não se dá ao trabalho de jardinar.
Por isso, o que da sua Poesia se projectar para o futuro, é porque já lhe pertence, como a primeira estrela do céu e a primeira onda do mar.
Só esta inconformidade com o literato explica a sua falta de contacto mais frequente com o leitor.
António de Sousa não faz versos. Quando eles lhe nascem lá dentro, atira-os como quem sacode sangue que lhe rebentasse nas mãos.
Ah, leitor desprevenido, se leres este livro novo, "Sete Luas", ficarás espantado! Como é que um poeta que já cantou ao sabor do fácil sentimento lusíada, te dá esta coisa aluada, maluca de todo, com o seu sabor demiúrgico, este livro estranho na nossa literatura poética, repassado de amargo sarcasmo, de trágico humor, de ironia dilacerante?
A chave de "Sete Luas" está apenas em dois versos:
Meu fato lunar confuso
e o meu sonho mais profundo.
(Continua)
NOTA - Um artigo de Campos de Figueiredo, num jornal que não está identificável porque o "herdei" em recorte. Data de 1943.