COMUNICADO
Maria João Brito de Sousa
19.09.08
Olhando a paz do rio,
A guerra descansou,
sem fôlego, três dias.
Depois o vento que a trouxe
como uma foice a levou!
Houve luar - um véu
para o pudor dos astros;
uma esquadrilha em vôo
e três cruzes de rastos.
Metálicos milhafres,
as máquinas abriram
longas feridas no céu,
e no céu se sumiram...
Onde parara a Bêsta,
a descansar, três dias,
silêncio só ficou,
o véu celeste e as cruzes
por chaves de agonias.
Uns mortos que outros mortos enterraram,
sem padres, sem eças,
sem rezas, sem luzes,
tôscas, três cruzes os fecharam
à beira dum rio.
(Assim mesmo, o lôbo
que somos nós-todos
e que ninguém é,
irá farejá-los pé-ante-pé,
e uivar à lua por desfastio!...)
In - "O Náufrago Perfeito"
Coimbra, 1944