SALMO
Maria João Brito de Sousa
20.09.08
De não saber morrer me vou vivendo,
inquieto, como os bichos acossados.
De vez em quando um beijo,
e os meus cuidados
como um ventre de grávida crescendo
a um parto que não vejo!
- Lua de versos, ó madrinha incerta
das minhas horas nuas, cor de lava
dessa illha deserta
onde o meu sonho cava
com as unhas em sangue o seu caminho!
Ó lua errante por um céu maninho,
se não podes salvar-me, dize ao vento
que me desfaça esta carne pesada
e me semeie os ossos, noite fora!
(O meu tormento
é a sombra varada
duma dor que demora
além da sua hora.)
- Ó lua, mãe de medo,
deixa, ao menos, uivar-te o meu segredo!
In - "Terra ao Mar", Editorial Inquérito, 1954