CRÍTICA LITERÁRIA (continuação)
Maria João Brito de Sousa
30.09.08
Esta poesia define bem a maneira poética de António de Sousa. Não há nela expressão directa do sentimento ou da intenção a que alude. Sôbre uma emoção - a emoção do envelhecer - construiu ele esta metáfora, aparentemente inexistente graças à integração imediata na sua expressão transposta ou alusiva. Intelectual, dizia, de um intelectualismo que força as emoções a serem consciência antes de serem emoções, o poeta de "O Náufrago Perfeito" tinha de pertencer à linhagem dos nossos poetas metafóricos. Na verdade até em Camões é difícil, por vezes, encontrar a analogia entre o poema e o seu significado lógico. Há versos seus que são enigmas. Porém não carecem de ser decifrados graças à beleza que em si mesmo possuem. Para sentirmos a majestade da Esfinge, não precisamos de conhecer o segredo que ela esconde. (continua)
In - "Diário de Lisbôa" , 21.2.1945 (artigo de João Gaspar Simões)