REFLUXO
Maria João Brito de Sousa
13.11.08
Esta vaga magia de ser triste
é o azeite que ponho na candeia,
o fermento do pão da minha ceia,
meu sorriso que dói mas não desiste.
Tantos me julgam fáci na alegria
e eu, de mim, sou a noite de um segredo!
O meu amor é a tremer de medo
desse Amor que, decerto, me sabia.
Amo a graça longínqua das estrelas,
o fluido fantasmático da bruma
e o longo adeus marítimo das velas.
Onda que ao largo se perdeu da praia,
vou-me disperso em lágrimas, espuma,
e talvez neste enrêdo vos distraia...
In - "Linha de Terra", Editorial Inquérito, 1951
Desenho de Manuel Ribeiro de Pavia
NOTA - Este é o meu preferido, de todos os sonetos de
António de Sousa e também o que melhor o de-
fine, na minha opinião.