DESCAMINHO
Maria João Brito de Sousa
17.11.08
Tinham-me dado um segredo.
Sabê-lo, sem mais ninguém,
era sofrer de alegria!
Amava-o! Tinha-lhe medo!...
Mas guardá-lo muito bem
era tudo o que eu valia.
Passei por terras estranhas,
não sei que penas de exílio
por amor dele. Depois,
que desoladas montanhas!
Que desertos sem auxílio!
Mas, deixá-lo! Éramos dois!
(Triste mas belo, o caminho!)
Certo dia, não sei quando
- se o lembro, mais se perdeu...-
chamaste por mim, baixinho.
Foste minha! Fui-me dando
até ficar todo teu!
Agora vivo a teus pés.
Não vejo mais nem decoro
o meu segredo esquecido.
Sei apenas como és!
E chamo, desdenho e choro
o meu caminho perdido!
In "Ilha Deserta", Lisboa, 1954
Imagem retirada da internet