A VELHA SALA
Maria João Brito de Sousa
19.11.08
A VELHA SALA
*
A velha sala sonolenta
cheira a bordado, a missanga,
a flores mortas, a tristeza, a pó.
Cheira a silêncio inútil
e a amareladas pontas de cigarros
só fumados até meio.
*
A traça roi, nas estantes,
livros que já ninguém lê,
livros que ninguém leu até ao fim.
Do piano, se o tocassem,
a música saíria com bolor!
*
Da velha sala sonolenta
vem qualquer coisa que dá pena
e vontade de fugir!
*
Oh, a minha alma cheia de saudades!
*
António de Sousa
In "Ilha Deserta" (2ª edição), Lisboa, 1954