FADÁRIO
Maria João Brito de Sousa
17.12.08
Noite na cama. Sonho. Bons sapatos velhos
para os calos da alma,
e lá vou de viagem
ao fundo da minha vida!
Vou ficando. - O melhor gôsto
da preguiça predestinada
que não curam médicos nem rezas.
Deixo pelo caminho o fato puído
das sete-luas com poeiras estelares;
que é uma vergonha andar assim, agora,
entre automóveis, aviões e engenharias!
(Lave-se quem cheira a passado,
antes que o varram para o lixo os demiurgos
- os do Homem Nôvo, científico e total.)
Trago na bagagem cumprimentos
- Ora essa; pois não!?... para tôda a gente,
respeito, consideração e frasquinhos bonitos
com cheirinhos para as namoradas.
Venho muito mais senhor-doutor,
para ir ao escritório, estar à espera
de quem compre certezas baratas.
- Muito bons dias! - Isto é o que eu trago.
(pròpriamente a viagem,
não sei como é, tenho-lhe mêdo!
Mas volto lá amanhã, se Deus quiser
e me não roubarem o passaporte...)
In "O Náufrago Perfeito", Coimbra, 1944
Imagem retirada da internet