TERRA DE SOMBRA
Maria João Brito de Sousa
29.11.08
No meu coração há um lugar hostil
- uma terra sem nome,
nua
e brava,
onde um vento doido sua e cava
covas de sombra para a lua
e, há trinta anos (ou mais de mil?),
uivo de fome.
Há névoas baças - entre uns penedos ,
cardos e urzes que ninguém come -
que se congelam e se condensam
em pobres limos e humidade...
Ai, vale enfermo de saüdade,
terra sem benção,
a um céu ruivo de ruivos mêdos,
negra de fome!
- o teu caminho que seja um vôo,
oh mal-amada! deixa que dome
o seu destino ou que se suma
a mancha torpe de veneno,
o inferno pálido e pequeno,
lá onde o inferno é lôdo e espuma! -
na terra de ninguém que só eu sou,
eu, só, me ganhe ou perca à minha fome.
In O Náufrago Perfeito", Coimbra, 1944
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