ACERCA DE ANTÓNIO DE SOUSA (Continuação)
Maria João Brito de Sousa
04.04.09
Nesta sua viagem, António de Sousa, ao aportar, trouxe no seu barco a que deu o nome de "Linha de Terra", carga escolhida e de agrado certo. Entre ela, porém, se encontram objectos que, pelo seu valor, mais se destacam. "Concordância" é um deles. Aquela segunda quadra de "Escala", que é como se segue:
Destinos dos desafios
ilusos, passada a rede,
ó mar que bebes os rios
onde acaba a tua sede?
Lembra uma pequena peça de marfim que mãos cuidadosas transformassem no precioso. "Toadilha" é um pedaço de canção sonhada por cantador que trouxesse na boca o sabor de uma ternura embalada por intraquila suavidade.
São poemas destes que me levam a dizer o que tantas vezes tenho repetido nestas colunas; que não é necessário ser confuso, embrenhar-se em complicadas redes de versos com a estranha maneira de aplicar termos que lembram charadas, para se ser modernista. António de Sousa é novo no modo de apresentar o tema desta sua "Toadilha", deixando, contudo, escorregar os seus versos pelo calmo declive de um modo ue se aproxima do lirismo, onde a beleza é posta sem receio de se perder.
Em outras passagens do seu liro - rica mercadoria da nau em que o autor viaja nesta jornada - como nos dois sonetos ou na "Senhora do Segredo", o poeta mostrou bemcomo consegue exteriorizar o qe na sua alma se abriga. E, ao destacar estes momentos, não quero dizer que o restante não deva ser lido com aquele cuidado que merece a poesia de bom quilate. Pelo contrário. Todos os poemas que antónio de Sousa apresenta nesta sua obra, estabelecem entre si um perfeito equilíbrio.
(continua)