A primeira estrela era de sete cores.
Era de sete cores,
eu vi-a
quando ainda não estava em nosso pai Adão
e, entre nuvens grávidas e mestras,
no Princípio da Coisa,
esperava a minha hora de homem.
A primeira estrela era de sete cores.
Como será a última?
E ainda haverá olhos para a verem?
(os meus, sei que nem mesmo a terra saberá
que os digeriu à "n" milhões de anos...)
Vós, meus irmãos futuros,
inda andareis por cá?
Inda tereis de ver só como eu vejo,
ou uma qualquer máquina de olhar,
de olhar até aos átomos, sem dó,
terá substituído estes bugalhos
encravados na caveira?
(Quantos, de entre os filósofos e os tolos,
se gastaram moendo estas perguntas gastas?
E eu que, de vez em quando, sou poeta,
por isso meio-filósofo-mais-tolo,
bem quisera por deus,
quieto, a acontecer,
a fugir e a durar!
Ego sum qui sum,
ad eternum,
etc.
O senhor me perdoe, se puder,
esta filáucia a que me rio
mais de mim que da vida!)
A primeira estrela era de sete cores.
Eu vi-a - juro-o! - ,
mas agora só quero dormir,
sonhar comigo.
- Boa noite! Boa noite!
In "Linha de Terra", Lisboa, 1951