APÓLOGO
Maria João Brito de Sousa
05.11.09
Todos olharam para o lado;
ele passou, encolhido,
envergonhado, calado
como um rato perseguido.
Entanto o sol revelava
outros dias, outra idade,
em que a mentira passava
sua passada verdade.
E vai um deus, condoído
de o ver assim decadente,
pintou-o doutro sentido
para o mandar para a frente.
Para a frente era um aquário
com um bocado de mar
e um letreiro extraordinário:
- Aqui é O Nunca Acabar!
Coitado!
Caiu na água como um peixe,
pôs-se a nadar com fervor
e já não há quem se queixe:
pode viver sossegado
por trás do vidro de cor.
António de Sousa
In "Sete Luas", 2ª Edição
Lisboa 1954
Imagem retirada da internet