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antoniodesousa

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Amigos! Eis aqui o dos olhos de mel! O Poeta!

.MJoão Sousa

Cria o teu cartão de visita

UM POETA QUE NASCEU NO DIA DE NATAL


Maria João Brito de Sousa

25.12.09

 

 

 

 

 

A ILHA DE SAM NUNCA

 

 

ESBOÇO IMPRESSIONISTA DO PERFIL DO POETA

 

 

Os traços biográficos quando articulados por mero interesse informativo, como se impõe em obra não isenta da preocupação didática de dar a conhecer um poeta que se fez esquecer, enfermam inexoravelmente de secura. Mas desapreço seria pela cálida humanidade de um homem que em tudo a fazia esfuziar, transcrever-lhe a biografia num inexpressivo registo curricular; pelo que, da lavra da minha afectuosa relação com o poeta, retiro um breve punhado de memórias que aquecem, como lhe é devido, o seu ser e estar de nababo de sonhos com as mãos a abanar.

Descrevo-o tal como oconheci entre a Sá da Costa e a bertrand no desafogo tertuleiro da indignação selada pela censura em que o pontificado dos Aquilinos e Sérgios embasbacavam os jovens. Eu, então muito moça e António de Sousa já entrado nos cinquenta era uma aparição abstrusa naquela tábua de valores falantes em que o magistério do político, do literário e do filosófico triangulava o nosso anseio por mudar as coisas. Logo no físico taurino bandarilhado por fantasias se lhe estampava a extravagância de um matulão basquetebolista desmazelado por uma alma famélica de estrelas. Vinha da Boa Hora, onde, ali para os fundos do Chiado, se reproduziam as comicidades e desesperos que Fialho de Almeida saboreou numa das suas pasquinadas. E aí, era v^ªe-lo, como o surpreendi no temeroso Palácio da Justiça onde, no papel de testemunha me achei, menina entre bruxas de beca, com a toga a adejar entre rufiagem e mulherio de saracoteio público e guincharia de venda ambulante clandestina. Era esta a clientela do cambão compassivo desse causídico desastrado para angariar causas proveitosas.

O contrastante emanava dele com uma candura comovente. A tricana e o fado de Coimbra para o qual enluarou trovas garganteadas por António Menano e Edmundo de Bettencourt, tinham-se-lhe pegado ao peito.

Mas por entre os relâmpagos da boémia pastoreava almas evangelicamente, em devota função que lhe cumpria como Secretário Geral da Young Men`s Christian Association fundada por Evangélicos Americanos. Este misticismo que nada tinha de beatério, apimentado por apetites carnais que lhe vinham ao lume dos olhos, casavam-se com uma inocência poética que, orvalhando as sentenças dos papas das tertúlias, era rocio mais calhado à frescura dos meus anos e à atracção pelo insólito com que me espicaçava o duende dos versos.

António Sérgio que era severo por disciplinada introversão de veemências românticas, não tinha paciência para o brincalhotar erótico de António de Sousa que arregalava o olho quando quando a beleza com saias lhe passava ao pé. E algumas vezes tive de interceder junto do Mestre que, pela minha militância cooperativista me prezava, para que aceitasse aquele gosto de tricana e serenata que, nos adiantados anos do poeta, continuava a piscar o olho ao que de femenininamente belo e emocionante viesse. saí-me mal da empresa, com infantil amargura do poeta que não compreendia aquelas lufadas de mau génio com que sérgio lhe bufava o nome de velho sátiro. o falhanço dos meus bons ofícios em nada toldou a devoção que me ligava ao mestrado e à altura de António Sérgio. Mas, aqui o confesso pela primeira vez, tomando eu em meu íntimo o partido do poeta, tal opção apressou-me os passos para climas mentais poeticamente mais respiráveis aos pulmões da minha sensibilidade do que a ratio ideológica falha de humor que a poesia prega à razão.

Ao transmitir estas breves impressões que guardo do meu convívio com antónio de Sousa mais não pretendo do que credenciar a autenticidade da sua poesia com o comportamento do homem e do seu discurso poético.

Um insulado pela fantasia lunar irremediavelmente praticada num coexistir que a marginaliza. Só que antónio de Sousa não dava por isso na sua candura de menino perpétuo a pedir a lua. A brincar a Robinson Crusoé da Ilha Deserta onde é possível recomeçar o mundo com as mãos imaculadas. Assim me apareceu. Assim o li nos versos que escreveu, nas ondas que perfeitamente naufragou para adquirir a pureza de sonhar sem a grilheta dos êxitos que atam os triunfantes ao compromisso de serem esplêndidos.

 

 

                                                      Natália Correia

 

 

In A ILHA DE SAM NUNCA

 

Atlantismo e Insularidade na Poesia de António de Sousa

 

 

Imagem - António de Sousa e Alice Brito de Sousa

 

 

 

TORRE DA MÁ HORA


Maria João Brito de Sousa

17.12.09

 

Não, meu menino! Não é aqui!

 

Tu vens ao jogo da vida

com essa avidez perfeita,

como um bambino a mamar:

- que denúncia os teus olhos de poeta!

 

Não, meu menino! Não é aqui!

 

Esta lareira já nem lembra o fogo.

- Berços? - só o vai-vem das artérias

contando passos de morte

como o caruncho que rói.

 

Esta Bela Adormecida

é alma sem salvação

e os príncipes partiram

quando o luar secou.

 

- Beijos? - Só esta fome sem remédio

como o pecado da gula.

[O amor não é ser amado:

é amar!]

 

Não, meu menino! Não é aqui!

 

Aqui só acre das lágrimas

na face arada de rugas:

as lágrimas ferozes e gratuitas,

sem perdão nem esperança.

 

 

In "Sete Luas", 2ª Edição, Lisboa, 1954

 

Imagem - Fotografia de Isabel França, retirada da internet

REQUIESCAT


Maria João Brito de Sousa

04.12.09

 

DEIXEM-NO!

Deixem o triste senhor de olhos em alvo

e boca trémula,

desgrenhar-se,

coçar a caspa lírica dos revoltos cabelos milenários.

 

Deixem-no, à beira-mar plantado,

olhos nos longes do cenário,

turvos e longos, pingando,

nas longas, longas mãos, longas e pálidas.

 

Não lhe falem!

- A sua voz é um ressumbro de fados,

um tilintar de vidrilhos,

cisco do verbo que foi dado ao Homem.

 

Deixem-no a ler as cartas de namoro

das Lauras e das Elviras:

um ópio de amor em branco

à hora em que é preciso ser tão vivo como a luz!

 

Deixem-no!

Deixem o astrólogo e vizir

das mil-e-uma-noites-de-luar

alheio ao fogo das horas.

 

Sabe-lhe a céu o seu cheiro de morte,

mas nós temos olfacto:

farejamos a vida em espírito e Verdade.

 

O caminho é por aqui!

 

 

in "Sete Luas", Lisboa, 1954

HISTÓRIA ANTIGA


Maria João Brito de Sousa

02.12.09

 

O mundo tinha outra vez

começado.

O céu estava pedrês,

zunia um vento danado,

vulcões espumavam fogo

e o mar fazia regougo

como um leão esfaimado.

 

Rangiam,

gemiam

as portas do paraíso,

com estrelas em "fingidos".

(Céu e Terra divididos

até ao Dia do Juízo!)

 

Eva perdera os sentidos

e a serpente do mal,

toda enroscada num galho

da macieira fatal,

assobiava,

imitava

a fúria do temporal.

 

Adão

não fora ganhar o pão,

não suava no trabalho:

estava sentado no chão,

tão alheado de tudo

que parecia tonto e cego,

surdo e mudo como um prego!

(dir-se-ia que nem sabia,

pela milésima vez,

que era outra vez o primeiro

dos homens

e o derradeiro)

 

A Terra tremia toda,

os raios, de uma assentada,

rachavam montes em três!

E ele... nada!

 

.........................................

 

- Bem antes da Idade Média,

fui testemunha de vista

desta singular tragédia.

Mas, desde então para cá,

andei por tanta conquista,

por terras de Bem e Mal,

que não me recordo já

se já lhe soube o final...

 

 

 

António de Sousa 

 

In "Sete Luas", Lisboa, 1954 - 2ª Edição

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