POETA, 1951
Maria João Brito de Sousa
18.12.08
Nem luar, nem estrelas. O céu denso,
noite densa e total.
(Quantas cores furtou para as não ver?)
O sal das suas lágrimas num lenço.
Sua vida banal
sabe a perder.
É de si que se data e que é revel.
(de tudo quanto espera tão dorido,
trai a sua verdade e nem dá conta...)
Atro, o fogo do amor, queimou-lhe a pele
e a alma nua de que vai vestido,
e só à terra o coração o aponta.
Um sino ao longe, à bruma doutras vidas,
a sua voz sonâmbula murmura,
onde era para ser clamor ou canto,
sete rimas perdidas.
(Dessas areias mortas de secura
nem demónio, nem santo!)
- A enganar o destino, faz-se duro?
(O moinho da saudade está sem mós.
Assim não vale a pena ser moleiro...)
- Gritam-lhe: Contra um muro!
gemem-lhe: Venha a nós!
e ele... enche o cinzeiro?
Que vos importa esse quieto desprezo,
se o anjo dos seus dias o provoca
só em sonhos, de leve?
- Deixai-o lá queimar seu fogo-preso
e ser brando ou cruel na sua toca!
Ele é de passar, breve.
In "Linha de Terra", Lisboa, 1951