CARTA DE LONGE
Maria João Brito de Sousa
04.01.09
Pöertchasch-am-See
Austria - Maio, 1923
Minha adorada mulher:
Aqui vão em duas linhas,
As saudades que adivinhas.
Tantas que nem sei dizer!...
Ando por terras estranhas,
longe do meu Portugal.
Atravessei rio e val`,
terra chã e altas montanhas
Mas onde quer que passei
achei-me sempre sòzinho:
lembrei-me sempre do ninho,
da rôla que lá deixei.
Este sol que me alumia
é triste, nem dá calor:
não é como o teu amor
que é sol de noite e de dia.
O céu é mais desmaiado
e assim a modos de estranho.
Inda não vi um rebanho
nem um pastor de cajado.
Moro à beira dum lago
de águas mansas como escravas...
Antes quero as ondas bravas
do mar que nos olhos trago!
No pálio que se descerra,
de tanta côr! às tardinhas,
eu procuro as andorinhas
que vêem da minha terra
E as andorinhas amigas,
nas curvas que vão traçando,
parece que estão marcando
voltas das nossas cantigas...
...Adeus minha companheira
das minhas dores e alegrias!
- Agora e todos os dias
seja Deus à tua beira!
E, lá do alto do céu,
te dê graça ao teu desejo!
Mando-te a alma num beijo
do teu António, só teu.
In "Caminhos", Tipografia da Seara Nova, Lisboa, 1933
Vinheta da Capa de Diogo de Macedo