BOLAS DE SABÃO
Maria João Brito de Sousa
01.03.09
Frágeis,
os meus minutos são
como bolas de sabão
coloridas e ágeis!
Quem as faz,
não sei porquê, afinal,
- se por meu bem ou meu mal -
é o mesmo que as desfaz...
Quedo-me a vê-las,
enquanto o vento balança
com espantos de criança;
choro, às vezes, de perdê-las!...
Que lindas cores! Quem há-de
não ter inveja de ser
êsse que as sabe fazer
em verdadeira verdade!?
Bolas de espuma
tal e qual como os mundos!
Duram, em vez de séculos, segundos,
mas a massa é tôda uma...
Esta, coitada!
tocou-lhe o Amor com o dedo,
morreu de mêdo
ou envergonhada.
Essa desfez-se ao pêso
dum chôro que não chorei...
Aquela é o reino do rei
do meu orgulho e desprêzo...
Leves e dobram-me os ossos
marcam-me a carne, destroem
certezas que se constroem
de rezas e padre-nossos!
Vejo-as sumir-se, nem sei
para onde ou para quê.
-É certo o que a gente vê?
Foram-se elas e eu fiquei?...
In "Caminhos", 1933
Imagem retirada da internet