HISTÓRIA ANTIGA
Maria João Brito de Sousa
02.12.09
O mundo tinha outra vez
começado.
O céu estava pedrês,
zunia um vento danado,
vulcões espumavam fogo
e o mar fazia regougo
como um leão esfaimado.
Rangiam,
gemiam
as portas do paraíso,
com estrelas em "fingidos".
(Céu e Terra divididos
até ao Dia do Juízo!)
Eva perdera os sentidos
e a serpente do mal,
toda enroscada num galho
da macieira fatal,
assobiava,
imitava
a fúria do temporal.
Adão
não fora ganhar o pão,
não suava no trabalho:
estava sentado no chão,
tão alheado de tudo
que parecia tonto e cego,
surdo e mudo como um prego!
(dir-se-ia que nem sabia,
pela milésima vez,
que era outra vez o primeiro
dos homens
e o derradeiro)
A Terra tremia toda,
os raios, de uma assentada,
rachavam montes em três!
E ele... nada!
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- Bem antes da Idade Média,
fui testemunha de vista
desta singular tragédia.
Mas, desde então para cá,
andei por tanta conquista,
por terras de Bem e Mal,
que não me recordo já
se já lhe soube o final...
António de Sousa
In "Sete Luas", Lisboa, 1954 - 2ª Edição