TORRE DA MÁ HORA
Maria João Brito de Sousa
17.12.09
Não, meu menino! Não é aqui!
Tu vens ao jogo da vida
com essa avidez perfeita,
como um bambino a mamar:
- que denúncia os teus olhos de poeta!
Não, meu menino! Não é aqui!
Esta lareira já nem lembra o fogo.
- Berços? - só o vai-vem das artérias
contando passos de morte
como o caruncho que rói.
Esta Bela Adormecida
é alma sem salvação
e os príncipes partiram
quando o luar secou.
- Beijos? - Só esta fome sem remédio
como o pecado da gula.
[O amor não é ser amado:
é amar!]
Não, meu menino! Não é aqui!
Aqui só acre das lágrimas
na face arada de rugas:
as lágrimas ferozes e gratuitas,
sem perdão nem esperança.
In "Sete Luas", 2ª Edição, Lisboa, 1954
Imagem - Fotografia de Isabel França, retirada da internet