FADO DO NAVEGANTE
Maria João Brito de Sousa
28.03.08
Meu lugre "Vento de Maio",
todo pintado de azul,
comprei-o nos mares do Sul
a um pirata malaio.
.
Lá onde o céu é maior
trafiquei pérola e copra;
a todo o vento que sopra
soube o caminho de cor.
.
Um dia, não sei porquê,
(frágeis que são as memórias...)
fiz-me a águas hiperbóreas
a vr o que lá se vê.
.
No meu regresso do Polo
trouxe uns sorrisos de gelo,
esta neve no cabelo
e duas focas ao colo...
.
Cheguei inteiro a Lisboa,
mas ninguém me conheceu!
Por isso pintei de breu
a minha vela de proa.
.
Triste, vendi o navio;
só uma corda guardei.
Os nós que dei e desdei
até que ficou no fio!
.
Mas o saber verdadeiro
e o gosto do mar amigo
vão para a morte comigo
no meu secreto roteiro.
In - Sete Luas, Edição de 200 exemplares da Tipografia da Atlântida, 1943
Na fotografia: António de Sousa, Eduardo Correia e Políbio Gomes dos Santos, o prematuramente falecido Poeta do "Novo Cancioneiro".
Fotografia inédita (à data da sua morte) de António de Sousa em Coimbra, na década de 40.
Esta fotografia ilustrava o artigo com que "O Jornal" anunciou a morte de António de Sousa.