NOVA CANÇÃO PERDIDA
Maria João Brito de Sousa
27.08.08
Falei!
Ela, defronte de mim,
pálida e séria. Julguei
que era a minha hora, enfim,
e disse como pensei.
Pálida e séria. Parecia
tudo o que é belo e distante.
Eu sentia
que me ouvia
para passar adiante.
Continuei.
Que valia,
por medo,
guardar o que já guardei
passava mais de ano e dia?
- Segredo do meu segredo?
A minha voz ondeava,
à sua volta,
pairava
- folha morta, folha solta
caindo, inútil.
Talvez...
- Ia tão longe! Hesitava...
- Uma outra história: "Era uma vez
uma estrela que faltava..."
- Mais longe ainda. E voltava,
mas não ficava de vez!
Sorriso pálido.- Triste?
- Sei lá! Talvez humilhada
deste amor que só insiste
com velhas palavras mortas
de bater a tantas portas.
A boca é pra ser beijada!
Eu dava graças à noite
que me ajudava,
e nem via
seu sorriso que magoava.
(Seu sorriso de ironia
era o dia
que apagava
as sombras do que eu dizia).
Continuei.
Que valia
guardar o que já guardei
passava mais de ano e dia?
À sua volta
a minha voz ondeava
- folha morta, folha solta
caindo, inútil.
Talvez...
Coração!
Mas... porque não?
- Outra história. "Era uma vez..."
In - "Ilha Deserta", Editorial Inquérito, 1954