SENHORA DA MEIA-NOITE
Maria João Brito de Sousa
19.12.18
SENHORA DA MEIA-NOITE
*
Vens para mim, na treva, de olhos fundos;
A alma à flor do rosto, inquieta e triste...
E sinto em ti a dor de ignotos mundos,
Que em meus olhos outrora descobriste.
*
Os beijos que me dás são mais profundos
E falas-me do medo que sentiste
Quando os mochos piaram gemebundos
Naquela estranha noite em que partiste.
*
Aperto as tuas mãos - sinto-as geladas
E as palavras que dizes, ao meu lado,
Parecem-me longínquas e veladas...
*
Tens a estatura aérea, imponderável,
Mas se te abraço, sinto-me abraçado
Ao mistério da morte impenetrável.
*
Antonio de Portucale *)
In "Cruzetro de Opalas", Coimbra MCMXVI
Antonio de Portucale, pseudónimo de António de Sousa durante a sua juventude.