SONATA III
Maria João Brito de Sousa
16.10.09
3
Amor!
Em ti me colho de surpresa
e sou a flor, em silêncio interdita,
ante os olhos de Deus onde Ele é amor.
Mal sonhados ideais que em mim dormitam,
acordam irmanados com o mundo
e eu desfolho-me e entrego-me, feliz,
ao sonho que me quer e me perdoa.
Amor!
Em ti me colho de surpresa,
saio de mim - asas minhas de pedra
e de nocturnas penas me solevam
transformadas em rémiges de fogo!
Saio de mim. Asas minhas me levam
sobre os meus idos passos
à fonte da manhã originária
- lá onde as águas, como o sangue, estuam
a força de viver.
Aleluia! Aleluia! Ó sol pagão!
Ó sol cristão ressurgido dos mortos!
Ó sol-pai a fecundar a Terra!
Ó sol-mãe de si mesmo gerando!
Alegria de ser!
Alegria de estar!
Alegria da morte
para mais luz depois!
Depois! Depois! Depois!
In "Linha de Terra", Lisboa, 1951
Imagem retirada da internet