ESCALA
Maria João Brito de Sousa
21.11.08
Ó rio de monte a monte,
vais ao mar que não conheces!
olha a areia ali defronte,
a pedir que não te apresses!
Destino dos desafios
ilusos, passada a rede,
ó mar que bebes dos rios,
onde acaba a tua sede?
Rios e mar, todos juntos,
chora o meu canto em bemóis.
São sempre sonhos defuntos
as pescas dos meus anzóis.
Cá vou no barco das horas,
a bandeira a meia adriça.
Tudo me serve a demoras,
que eu viajo por preguiça.
Dobro-me em medidos pobres
e à flor das águas me escuta
o deus-dos-pecados-pobres.
(A morte quer-me sem luta)
In "Linha de Terra", Lisboa, 1951