GRANDE MERGULHO
Maria João Brito de Sousa
18.02.10
No fundo do mar,
no fundo, no fundo
dum mar que não é
nem do céu
nem do mundo,
nas velhas areias
entre algas em feixes,
conchinhas, moluscos,
luzentes escamas
de meigas sereias
e rápidas flamas
do arco-íris dos peixes,
a chave lá está.
Quem desce a buscá-la?
Cem anos, mil anos,
mil anos e um dia,
alguém que tecia
a mística rede
com sonhos humanos,
naufrágios e sede,
martírios e crimes,
geométricos gritos
e poemas sublimes,
bordões de viola
e nós de infinitos,
num pronto apanhou-a!
Se chega cá acima;
ao Cabo ou ao Polo,
ao Havre ou ao Goa
ou mesmo a Lisboa!...
Mas, longa, a subida,
mais longa, demora
a conta sabida:
A hora por hora
é sempre uma vida.
In "Sete Luas", Lisboa, 1954
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